domingo, 12 de setembro de 2010

Filme - Ken Park (2002)


É ótimo poder indicar um filme que você tem certeza que vai marcar as pessoas de alguma maneira. Indicar um filme que não vai ser “mais um” dos montantes que nós assistimos na vida e que passam despercebidos ou que não acrescentam em nada. Ken Park foi construído pra marcar, te fará refletir muito sobre variados contextos. As cenas por si são fortes, com imagens e roteiro bruto, mas nada superficiais pelo contrario não tiram a beleza da arte, da realidade e do cinema.

Gosto de pensar que é um treino pra nossa vida, pra que possamos começar olhar variados contextos humanos de forma mais livre, sem o velcro das idéias fechadas e morais.

O filme começa com um suicídio com direito a sangue na tela. Já lhe aviso pra não desistir do filme antes mesmo de conhecê-lo, temos que começar a experimentar antes de julgar. As cenas fortes levam por trás personalidades belas, excêntricas e intrigantes.

São histórias paralelas de um grupo de amigos adolescentes em que cada um vive uma vida diferente e rica em histórias.

Entre as tantas temáticas que você poderá enxergar no filme estão; a traição; a dificuldade de aceitar o envelhecimento para o adulto da meia idade; hipocrisia do que se diz religioso; desejos sexuais pelos filhos; frustração e não superação do luto que vira doença; até que ponto os pais ou as pessoas podem “descontar” suas frustrações nos outros, inclusive nos filhos e como uma mente psicopata/infantil se cria. Aposto que deu vontade de assistir e se deliciar com as tantas aprendizagens que o filme pode lhe trazer.

Ken Park tráz e engloba essas temáticas do filme relacionando-as com a adolescência, as amizades e a liberdade que essa época propicia junto com a beleza da sexualidade jovem, que nunca deveria morrer.

Será o adolescente “complicado”, ou o mundo que ele vive que é?

Questione-se degustando de um excelente filme. Abra sua mente.

domingo, 5 de setembro de 2010

Ambigüidade do Ser – Filosofando –

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Liberdade na gênese da existência humana


Alguns conceitos que acreditamos serem reais e “obrigatórios” não condizem com a realidade, ao contrario nos aprisionam dentro de nós mesmo, nos trazendo sofrimento ou nos restringindo na vida, por isso proponho livrar-se do conhecimento acumulado.

As palavras de Saint-Exupéry, “... de conduzi-lo de volta a você, é uma bela coisa, mas no fim de ser levado de volta a si mesmo você terá de resolver, até certo ponto, quem realmente gostaria de ser tornar”. Para isso terá que se livrar da bagagem alheia, de idéias fechadas.


Nascemos livres pra escolher diferentes possibilidades de viver, mas pra que escolhamos é primordial que conheçamos nossas alternativas. Portanto é inquestionável e imprescindível que saibamos o quanto somos livres em gênese pra optar e responder por nossas escolhas.


Agora sim poderei entrar no tema que gostaria, a bissexualidade. Aposto que o termo em si pode lhe assustar. Pois a bissexualidade contemporaneamente na cultura ocidental e oriental é vista de forma deturpada. A sociedade ainda muito arcaica e fundada na moral e dogmas religiosos ainda vê variados contextos humanos de forma errônea e pejorativa.



Olhamos para o bissexual como o indeciso, “o cara em cima do muro”, pois “não se decidiu”. Eu lhe pergunto o que é decidir? Temos uma mania horrível de querer classificar, de querer rotular, dar um nome às coisas, etiquetá-las e colocá-las em caixas e mandá-las para esteiras mecanicistas da sociedade. Karl Marx diria que nos coisificamo-nos muitas vezes.

Não vejo problema algum de você optar e escolher um gênero sexual pra se relacionar, ora recusar o outro também é optar, e como ser humano livre não há problema algum. Aqui não quero que se classifique, pelo contrario quero que seja livre e não se classifique. Não faço apologia ao bissexualismo e sim ofereço uma perspectiva existencial de conscientizá-lo. - Que você de fundo existencial é bissexual, pois é livre pra escolher homens ou mulheres. E mesmo que opte a um gênero, de fundo existencial humano sempre será livre pra mudar de escolha, logo sempre será bissexual em essência.

Agora você deve estar no mínimo confuso, e com raiva do autor. Mas isso é compreensível. Pois você aprendeu que tinha que decidir, que tinha que escolher uma única alternativa e que isso era continuo e imutável. Sou heterossexual ou sou homossexual. Quando você diz/pensa; “sou hetero” você se limita e se restringe no tempo e na mente, pois você é humano e existem outros maravilhosos seres humanos que nem você e do mesmo sexo que você, do qual poderia se relacionar. Você se permitiria tal relação? – Se “não”, porque não?! Do mesmo jeito os homossexuais que se restringem. Muitos diriam, “ah mais eu tenho nojo do sexo oposto”. Meu amigo ninguém nasce com nojo, ninguém nasce com preconceito racial, ninguém nasce com concepção alguma. Você aprendeu, você construiu esse nojo que de fundo não existe. Espero que você saiba que não nasceu com nojo.

Você pode escolher ter relações heterossexuais, homossexuais, ser assexuado, etc. Às vezes escuto: “Sou gay e não gosto de mulheres”. É uma opção também. Pode estar relacionada a suas vivencias, a suas aprendizagens, é pessoal e indiscutível. Mas não entendo exagerações: “odeio todas as mulheres do mundo”. Pergunto-me porque?! Existem mulheres maravilhosas e aposto que o gay que disse isso não conhece todas as mulheres do mundo pra dizer que não ira gostar de nenhuma, então porque generalizou? Até mesmo o corpo, é diferente, nenhuma mulher tem corpo igual, nem homem tem corpo igual, nem o sexo (ato) em si é igual.

Nem falo nada das religiões porque a maioria exige o seguimento de suas regrinhas e dogmas, que são de fundo umas baboseiras, criadas pelo homem pra alienar você.

Será que a questão é só mesmo pênis e vagina? Será? – Se for isso tudo bem, mas se não for... Pense se você não está vivendo uma idéia pré-formulada no qual temos que escolher, nos classificar, assim seremos aceitos, assim seremos alguém e faremos parte de um grupo. - Que idéia equivocada essa!


Desde os anos 90 fala-se muito em bissexualidade. A manchete de capa da revista americana Newsweek de julho de 1995 era: "Bissexualidade: nem homo nem hetero. Uma nova identidade sexual emerge”. É possível que num futuro próximo, com a dissolução da fronteira entre o masculino e o feminino, as pessoas escolham seus parceiros amorosos e sexuais pelas características de personalidade, não mais por serem homens ou mulheres. A bissexualidade poderá se tornar, então, bastante comum. A ponto de predominar.


Se você, por exemplo, tem um relacionamento hetero, e perguntam o que você é? A priori você não hesitará em responder: “sou hetero”. A pergunta deveria ser “você está vivendo um relacionamento...(?)” – “estou vivendo um relacionamento hetero”. Quando perguntamos o que a pessoa é, referente a suas escolhas sexuais forçamos uma definição geral e não a sua atual condição quanto relacionamento. De fundo temos uma resposta cabível: “sou bissexual, pois estou aberto ao mundo, e não me restrinjo. Eu vivo!”. Pra encurtá-la: “gosto de pessoas”. E não digo que seja importante essa resposta pros outros, isso não é importante! O importante é que você ao fundo saiba disso, saiba que é livre.

Podemos viver nossa vida e ter ao nosso lado pessoas maravilhosas do sexo oposto, e que ótimo isso é. Mas para sermos livres não deveríamos nos restringir se o mesmo sexo aparecer e nos oferecer compartilhar, tanto o corpo como a companhia. Porque às vezes tendemos a nem pensamos nas opções, “ah nunca, pensar nisto?! Deus nos livre” – Pare com isso se permita pensar. Pensar é experimentar da vida também. Pensamos em coisas horríveis e cruéis e não seremos hipócritas de negar, então porque não pelo menos pensarmos em outras alternativas na nossa vida?

Imagine-se desde pequeno crescendo em outra família, outro país ou outra cultura, e pense se você teria a mesma “cabeça” a mesma personalidade que você construiu pra si.

Sei que queremos acreditar na idéia que existe algo biológico, que existe uma força universal talvez até espiritual, que fez nós sermos o que somos. Às vezes escuto, “eu nasci gay”, meu amigo você optou em ser gay, e até que geneticistas provem ao contrario (se conseguirem) essa é a realidade. Mas isso não é triste, não é pejorativo, é uma das definições mais perfeitas, pois “sou o escultor de mim mesmo”, eu sou o fruto de minhas escolhas e vivencias produto da minha liberdade. Não existe coisa mais bonita de se ouvir, pelo menos enxergo dessa maneira.




Em 1975, a famosa antropóloga Margareth Mead declarou: "Acho que chegou o tempo em que devemos reconhecer a bissexualidade como uma forma normal de comportamento humano. É importante mudar atitudes tradicionais em relação ao homossexualismo, mas realmente não deveremos conseguir retirar a carapaça de nossas crenças culturais sobre escolha sexual se não admitirmos a capacidade bem documentada (atestada no correr dos tempos) de o ser humano amar pessoas de ambos os sexos."


Confesso que conheci poucos bissexuais que realmente são bissexuais, a maioria está mesmo “em cima do muro” se esquivando por medos inclusive de opiniões sociais. E infelizmente inventam uma coisa que acho no mínimo controvérsia. A questão da “preferência”... “Sou bi e prefiro tal gênero...”. Se você tem preferência logo não tem uma “filosofia bi”, logo está se limitando novamente, inclusive metafisicamente.

Pergunto a vocês: “Vocês conseguem escolher por quem vão se apaixonar?” – Alguns dirão que sim, então reformulo a pergunta: “Vocês se restringem a gostar somente de um tipo especifico de característica nas pessoas?” Explicarei melhor, você por acaso coloca na sua cabeça: “só amarei mulheres lindas dos olhos azuis com 1,75 de altura, que tenham pele clara e uma voz perfeita”. Você até pode escolher essas “metas” pro amor, mas afirmo será superficial. Pois ao fundo não escolhemos a caracterização da pessoa por quem nos apaixonamos verdadeiramente, isso não é por si só fundamental numa “boa relação”, outros fatores também serão extremamente importantes – a singularidade. E mesmo que a pessoa tenha os atributos que queremos, não nos restringimos tanto a essas características (ao longo do tempo).

Ora o gostar de alguém acontece, pode ser negra ou branca, pode ser rico ou pobre, pode ser alto, quem nunca se apaixonou por um baixinho?. Podemos às vezes até resistir por nossas “preferências”, mas o que nos atrai muitas vezes é mais profundo. É a personalidade, a singularidade do outro que nos atrai verdadeiramente. (falo de uma relação não superficial)

Quando amamos levamos em conta não só o corpo, mas também a personalidade, assim escolhemos compartilhar as coisas e podemos usufruir com mais intensidade uma relação.

A personalidade em si é diferente de sexos – feminino/masculino, dizer que homem tem personalidade forte e mulher frágil é do século passado. Já percebemos que mulheres e homens têm “gênios” e personalidades distintas e diferenciadas, não existe um padrão. Cada pessoa é singular e única.

Logo pensamos; personalidade é uma coisa única, o que me impede de gostar de uma personalidade do sexo oposto em dado momento e em outra etapa de minha vida gostar de uma personalidade do mesmo sexo? Nada impede!


Você deve se livrar das barreiras que aprendeu pra poder se permitir, a pensar diferente, e com maior liberdade. Qual o valor da opinião alheia sobre sua vida? Será que vale realmente você viver uma vida regrada e superficial? Afinal é da sua vida que estamos falando, do seu tempo, que é escasso.

A ambigüidade no bissexualismo não é “safadeza ou promiscuidade” não quer dizer sair de uma relação monogâmica pra orgias, isso é uma visão deturpada também. Eu não sou contra relação monogâmica, nunca fui contra. Sou contra as amarras que nós mesmos nos colocamos e depois frente a diferentes situações não sabemos o porque nos sentimos tão “presos”, o porque não podemos tal coisa. Ai nem pensamos que perdemos a chance de ter vivido algo.

Aqui temos apenas uma perspectiva como já disse. Não quero que se rotule, seria contra meus princípios, mas quero que entenda nesse aspecto que no fundo você aprende o que é certo e errado, o que “pode” e o que “não pode”. Isso serve pra vários aspectos de sua vida.

Marjorie Garber, professora da Universidade de Harvard, que elaborou um profundo estudo sobre o tema, “compara a afirmação de que os seres humanos são heterossexuais ou homossexuais às crenças de antigamente, como: o mundo é plano, o Sol gira ao redor da Terra. Acreditando que a bissexualidade tem algo fundamental a nos ensinar sobre a natureza do erotismo humano”.


Então pense se você não está se restringindo de algo, de experimentar e sentir. Lembre-se que neste contexto você não fará mal a ninguém, não agredirá, não matará ou ferirá a integridade de ninguém. Afinal é uma escolha pessoal e de conseqüências pessoais, está na opção de escolher livremente. E é só e apenas sua.

É uma opção humana e qualquer um pode fazê-la, pois faz parte da liberdade, liberdade na gênese da existência humana.

Quer ser livre, ou se restringir?

Viva escolhendo livremente!